domingo, 20 de maio de 2012

Pensamentos de rodapé: São aqueles que trabalham igual a um "curriculo oculto", nos direcionando e nos posicionando frente provas e expiações que o cotidiano, como um bondoso mestre, nos apresenta, para o nosso desenvolvimento e própria edificação. Robson RODAPÉ - APÊNDICE 1.º) NÃO VIM DESTRUIR A LEI Não penseis que vim destruir a Lei ou os profetas; não vim para destruí-los, mas para dar-lhes cumprimento. Porque em verdade vos digo que o céu e a terra não passarão, até que não se cumpra tudo quanto está na lei, até o último jota e o último ponto. (Mateus, V: 17-18.) 2.º) MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO “Tornou, pois, a entrar Pilatos no pretório, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus? Respondeu-lhe Jesus: O meu Reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, certo que os meus ministros haviam de pelejar para que eu não fosse entregue aos judeus; mas por agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe então Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes, que eu sou rei. Eu não nasci nem vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade; todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.” (João, cap. XVIII, 33-37.) Podem ser considerados heróis tanto aqueles que ganham quanto aqueles que sucumbem, mas jamais quem abandona o combate..... 3.º) HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI Não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. – Há muitas moradas na casa de meu pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos o lugar. E depois que eu me for, e vos aparelhar o lugar, virei outra vez e tornar-vos-ei para mim, para que lá onde estiver, estejais vós também. (João, XIV: 1-3.) A verdade é uma luz que dissipa todas as nuvens da dúvida... 4.º) NINGUÉM PODE VER O REINO DE DEUS, SE NÃO NASCER DE NOVO (Após a transfiguração.) E os discípulos lhe perguntaram, dizendo: Pois por que dizem os escribas que importa vir Elias primeiro? Mas ele, respondendo, lhes disse: Elias certamente há de vir e restabelecerá todas as coisas: digo-vos, porém, que Elias já veio, e eles não o conheceram, antes fizeram dele quanto quiseram. Assim também o Filho do Homem há de padecer às suas mãos. Então compreenderam os discípulos que de João Batista é que ele lhes falara. (Mateus, XVII: 10-13; Marcos, XVIII: 10-12.) É preciso escolher um caminho que não tenha +++ fim, mas ainda assim, caminhar sempre na expectativa de um dia poder encontrá-lo... 5.º) BEM AVENTURADOS OS AFLITOS Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor à justiça, porque deles é o Reino dos Céus. (Mateus, V: 5,6 e10.) Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus, Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque rireis. (Lucas, VI: 20,21.) Mas ai de vós, ricos, porque tendes no mundo a vossa consolação. Ai de vós, que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis. (Lucas, VI: 24,25.) A ato de aceitar, de entender e de sobrepujar as provas e expiações que se nos apresentam diariamente, são os grandes desafios da nossa vida, já inútil e estéril é a incredulidade e a covardia... 6.º) O CRISTO CONSOLADOR – O JULGO LEVE Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-29-30.) Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perdas de seres queridos, encontram sua consolação na fé no futuro, e na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, pelo contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições pesam com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem abrandar sua amargura. Eis o que levou Jesus a dizer: “Vinde a mim, vós todos que estais fatigados, e eu vos aliviarei.” Jesus, entretanto, impõe uma condição para a sua assistência e para a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição é a da própria lei que Ele ensina: seu jugo é a observação dessa lei. Mas esse jugo é leve e essa lei é suave, pois que impõem como dever o amor e a caridade. A felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido.... 7.º) BEM – AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO, PORQUE DELES É O REINO DOS CÉUS A incredulidade se diverte com esta máxima: Bem – aventurados os pobres de espírito, como com muitas outras coisas que não compreende. Por pobres de espírito, entretanto, Jesus não entende os tolos, mas os humildes, e diz que o Reino dos Céus é destes e não dos orgulhosos. No coração do soberbo é freqüente o ciúme e a irritação, porém, de continua paz goza o humilde de coração.... 8.º) BEM – AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO, PORQUE ELES VERÃO A DEUS Então lhe apresentaram uns meninos para que os tocasse; mas os discípulos ameaçavam os que lho apresentavam. O que, vendo Jesus, levou-o muito a mal, e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, e não os embaraceis, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham. Em verdade vos digo que, todo aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele. E abraçando-os, e pondo as mãos sobre eles, os abençoava. (Marcos, X: 13-16.) Todos nos apresentamos nossas particularidades e principalmente, orgulhosamente ostentamos nossas diferenças, nem mesmo os dedos da mão são iguais, cada qual tem seus projetos e seus sonhos, cada um seu nível de entendimento e de desenvolvimento espiritual... Somos almas irmãs, que caminhamos unidas pelo próprio Pai... Durante o percurso desta longa estrada, que é a nossa vida, devemos conciliar tais características particulares e juntos construirmos um novo mundo, onde a harmonia seja a tônica do nosso proceder... Somente assim alcançaremos a paz... Num mundo de regeneração... 9.º) BEM – AVENTURADOS OS PACÍFICOS, PORQUE SERÃO CHAMADOS FILHOS DE DEUS Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás, e quem matar será réu no juízo. Pois eu vos digo que todo o que se ira contra o seu irmão será réu no juízo; e o que disser a seu irmão: racca, será réu no conselho; e o que disser: és louco, merecerá a condenação do fogo do inferno. (Mateus, V: 21 –22.) Por estas máximas, Jesus estabeleceu como lei a doçura, a moderação, a mansuetude, a afabilidade e a paciência. E, por consequência, condenou a violência, a cólera, e até mesmo toda expressão descortês para com os semelhantes. Racca era entre os hebreus uma expressão de desprezo, que significa homem reles, e era pronunciada cuspindo-se de lado. E Jesus vai ainda mais longe, pois ameaça com o fogo do inferno aquele que disser a seu irmão: És louco. Devemos todos entender que vivenciar a paz é muito mais difícil do que viver a guerra... Viver em paz significa superar todas as diferenças, vivenciar a guerra significa exaltar todas as diferenças.... 10.º) BEM – AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS, PORQUE ELES ALCANÇARAM MISERICÓRDIA Se teu irmão pecar contra ti, vai, e corrige-o entre ti e ele somente; sê te ouvir, ganho terás o teu irmão. Então, chegando-se Pedro a ele, perguntou: Senhor, quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, para que eu lhe perdoe? Será até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas que até setenta vezes sete vezes. (Mateus, XVIII: 15,21,22.) A misericórdia é o complemento da mansuetude, pois os que não são misericordiosos também não são mansos e pacíficos. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação e sem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio das almas elevadas, que pairam acima do mal que lhe quiserem fazer. Uma está sempre inquieta, é de uma sensibilidade sombria e amargurada. A outra é calma, cheia de mansuetude e caridade. A Lei de Amor, que afirma que fora da caridade não há salvação... Determina a solidariedade, substituindo a figura do “eu” como personalidade, pela fusão de todos os seres e assim nesta união de forças, extinguiríamos as misérias sociais. 11.º) O SACRIFÍCIO MAIS AGRADÁVEL A DEUS Portanto, se estás fazendo a tua oferta diante do altar, e te lembrar aí que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali a tua oferta diante do altar, e vai reconciliar primeiro com teu irmão, e depois virás fazer a tua oferta. (Mateus, V: 23-24.) Quando Jesus disse: “Vai te reconciliar primeiro com teu irmão, e depois virás fazer a tua oferta”, ensinou que o sacrifício mais agradável ao Senhor é o dos próprios ressentimentos; que antes de pedir perdão ao Senhor, é preciso que se perdoe aos outros, e que, se algum mal se tiver feito contra um irmão, é necessário tê-lo reparado. Somente assim a oferenda será agradável, porque proveniente de um coração puro de qualquer mau pensamento. Ele materializa esse preceito, porque os judeus ofereciam sacrifícios materiais, e era necessário conformar as suas palavras aos costumes do povo. O cristão não oferece prendas materiais, pois que espiritualizou o sacrifício, mas o preceito não tem menos força para ele. Oferecendo sua alma a Deus, deve apresentá-la purificada. Ao entrar no templo do Senhor, deve deixar lá fora todo sentimento de ódio e de animosidade, todo mau pensamento contra seu irmão. Só então sua prece será levada pelos anjos aos pés do Eterno. Eis o que ensina Jesus por essas palavras: “Deixa ali a tua oferta diante do altar, e vai te reconciliar primeiro com teu irmão”, se queres ser agradável a Deus. 12.º) NÃO JULGUEIS PARA NÃO SERDES JULGADOS. AQUELE QUE ESTIVER SEM PECADO ATIRE A PRIMEIRA PEDRA. Não julgueis, pois, para não serdes julgados; porque, com o juízo que julgardes os outros, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus, VII: 1-2.) Não julgue um Homem pelas suas opiniões é sim pelo que ele se tornou em virtude delas... Não devemos julgar os outros mais severamente do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar nos outros o que nos desculpamos em nós. Antes de reprovar uma falta de alguém, consideremos se a mesma reprovação não nos pode ser aplicada... 13.º) NINGUÉM PODE VER O REINO DE DEUS, SE NÃO NASCER DE NOVO. E havia um homem dentre os Fariseus, por nome Nicodemos, senador dos Judeus. Este, uma noite, veio buscar a Jesus, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus, porque ninguém pode fazer estes milagres, que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Jesus respondeu e lhe disse: Na verdade, na verdade te digo que não pode ver o Reino de Deus, senão aquele que renascer de novo. Nicodemos lhe disse: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode entrar no ventre de sua mãe e nascer outra vez? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te maravilhes de eu te dizer que te importa nascer de novo. O Espírito sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde vai. Assim é todo aquele que é nascido do Espírito. Perguntou Nicodemos: Como se pode fazer isto? Respondeu Jesus: Tu és, mestre em Israel, e não sabes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo, que nós dizemos o que sabemos, e damos testemunho do que vimos, e tu, com tudo isso, não recebes o nosso testemunho. Se quando eu te tenho falado das coisas terrenas, ainda assim não me crês, como crerias, se eu te falasse das celestiais?” (João, III: 1-2.) 14.º) BEM – AVENTURADOS OS AFLITOS Bem – aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem – aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. ( Mateus, V: 5,6 e 10.) Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque rireis. (Lucas, VI: 20,21.) Mas ai de vós, ricos, porque tendes no mundo a vossa consolação. Ai de vós, que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis. (Lucas, VI: 24,25.) As compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra só podem realizar-se na vida futura. Sem a certeza do porvir, essas máximas seriam um contrassenso, ou mais ainda, seriam um engodo. Mesmo com essa certeza, compreende-se dificilmente a utilidade de sofrer para ser feliz. Diz-se que é para haver mais mérito. Mas, então, se pergunta: Por que uns sofrem mais do que os outros; Por que uns nascem na miséria e outros na opulência, sem nada terem feito para justificar essa posição; Por que para uns nada dá certo, enquanto para outros tudo parece sorrir? Mas o que ainda menos se compreende é ver os bens e os males tão desigualmente distribuídos entre o vício e a virtude; ver homens virtuosos sofrer ao lado de malvados que prosperam. A fé no futuro pode consolar e proporcionar paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus. Entretanto, desde que se admite a existência de Deus, não é possível concebê-lo sem suas perfeições infinitas. Ele deve ser todo - poderoso, todo justiça, todo bondade, pois sem isso não seria Deus. E se Deus é soberanamente justo e bom, não pode agir por capricho ou com parcialidade. As vicissitudes da vida têm, pois, uma causa, e como Deus é justo, essa causa deve ser justa. Eis do que todos devem compenetrar-se. Deus encaminhou os homens na compreensão dessa causa pelos ensinos de Jesus, e hoje, considerando-os suficientemente maduros para compreendê-la, revela-a por completo. É muito simples, amoldar-se à dor, é vencê-la.... 15.º) O CRISTO CONSOLADOR – O JUGO LEVE Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-29-30.) Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perdas de entes queridos, encontram sua consolação na fé no futuro, e na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, pelo contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições pesam com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem abrandar sua amargura. Eis o que levou Jesus a dizer: “Vinde a mim, vós todos que estais fatigados, e eu vos aliviarei.” Jesus, entretanto, impõe uma condição para a sua assistência e para a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição é a da própria lei que Ele ensina: seu jogo é a observação dessa lei. Mas esse jugo é leve e essa lei é suave, pois que impõem como dever o amor e a caridade. Alma grande é sempre aquela que fita a luz na amplidão, sabendo contudo o valor de uma vela na hora da escuridão.... 16.º) Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que a suplicam. Seu poder cobre a Terra, e por toda parte, ao lado de cada lágrima, põe o bálsamo que consola. O devotamento e a abnegação são uma prece contínua e encerram profundo ensinamento: a sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos aqueles que sofrem compreender estas verdades, em vez de reclamarem contra as dores, os sofrimentos morais, que são aqui na Terra o vosso quinhão. Tomai, pois, por divisa, essas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem. O sentimento do dever cumprido vos dará a tranquilidade de espírito e a resignação. O coração bate melhor, a alma se acalma, e o corpo já não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto mais, quanto mais profundamente abalado estiver o espírito.... O verdadeiro heroísmo consiste em persistir por mais um momento.... De se tentar por mais uma vez, quando todos já nós abandonaram, quando tudo já nos parece irremediavelmente perdido.... 17.º) BEM – AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO Bem – aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus.(Mateus, V:3.) A incredulidade se diverte com esta máxima: Bem-aventurados os pobres de espírito, como com muitas outras coisas que não compreende. Por pobres de espírito, entretanto, Jesus não entende os tolos, mas os humildes, e diz que o Reino dos céus é destes e não dos orgulhosos. Os homens cultos e inteligentes, segundo o mundo, fazem geralmente tão elevada opinião de si mesmos e de sua própria superioridade, que consideram as coisas divinas como indignas de sua atenção. Preocupados somente com eles mesmos, não podem elevar o pensamento a Deus. Essa tendência a se acreditarem superiores a tudo leva-os muito freqüentemente a negar o que, sendo-lhes superior, pudesse rebaixá-los, e a negar até mesmo a Divindade. E, se concordam em admiti-la, contestam-lhe um dos seus mais belos atributos: a ação providencial sobre as coisas deste mundo, convencidos de que são suficientes para bem governá-lo. Tomando sua inteligência como medida da inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem admitir como possível àquilo que não compreendem. Quando se pronunciam sobre alguma coisa, seu julgamento é para eles inapelável. Se não admitem o mundo invisível e um poder extra – humano, não é porque isso esteja fora do seu alcance, mas porque o seu orgulho se revolta à idéia de alguma coisa a que não possam sobrepor-se, e que os faria descer do seu pedestal. Eis porque só têm sorrisos de desdém por tudo o que não seja do mundo visível e tangível. Atribuem-se demasiada inteligência e muito conhecimento para acreditarem em coisas que, segundo pensam, são boas para os simples, considerando como pobres de espírito os que as levam a sério. Entretanto, digam o que quiserem, terão de entrar, como os outros, nesse mundo invisível que tanto ironizam. Então seus olhos se abrirão, e reconheceram o erro. Mas Deus, que é justo, não pode receber da mesma maneira aquele que desconheceu o seu poder e aquele que humildemente se submeteu às suas leis, nem aquinhoá-los por igual. Ao dizer que o Reino dos Céus é para os simples, Jesus ensina que ninguém será nele admitido sem a simplicidade de coração e a humildade de espírito; que o ignorante que possui essas qualidades será preferido ao sábio que acreditar mais em si mesmo do que em Deus. Em todas as circunstâncias, ele coloca a humildade entre as virtudes que nos aproximam de Deus, e o orgulho entre os vícios que dele nos afastam. E isso por uma razão muito natural, pois a humildade é uma atitude de submissão a Deus, enquanto o orgulho é a revolta contra Ele. Mais vale, portanto, para a felicidade do homem, ser pobre de espírito, no sentido mundano, e rico de qualidades morais. O Homem deve sempre manter vivo no coração a plenitude da alegria e da esperança, não temos o direito de vivermos tristes e muito menos sem uma causa justa e solidária para se lutar... 18.º) O MAIOR MANDAMENTO Mas os fariseus, quando ouviram que Jesus tinha feito calar a boca aos saduceus, juntaram-se em conselho. E um deles, que era doutor da lei, tentando-o, perguntou-lhe: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhe disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas. (Mateus, XXII: 34 -40.) E assim, tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles. Porque esta é a lei e os profetas. (Mateus, 7:12.) Tratai todos os homens, como quereríeis que eles vos tratassem. (Lucas, VI: 31.) O Reino dos Céus é comparado a um rei que quis tomar a seus servos. E tendo começado a tomar as contas, apresentou-se-lhe um que lhe devia dez mil talentos. E como não tivesse com que pagar, mandou o seu senhor que o vendessem a ele, e a sua mulher, e a seus filhos, e tudo o que tinha, para ficar pago da dívida. Porém o tal servo, lançando-se-lhe aos pés, fazia-lhe esta súplica: Tem paciência comigo, que eu te pagarei tudo. Então o senhor, compadecido daquele servo, deixou-o ir livre, e perdoou-lhe a dívida. E tendo saído este servo, encontrou um de seus companheiros, que lhe devia cem dinheiros; e lançando-lhe a mão à garganta o asfixiava, dizendo-lhe: Paga-me o que deves. E o companheiro, lançando-se-lhe aos pés, rogava, dizendo: Tem paciência comigo, que eu te satisfarei tudo. Porém ele não atendeu; retirou-se, e fez que o metessem na cadeia, até pagar a dívida. Porém os outros servos, seus companheiros, vendo o que se passava, sentiram-no fortemente, e foram dar parte a seu senhor de tudo o que tinha acontecido. Então o fez vir seu senhor, e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei a dívida toda, porque me viste rogar isso; não devias tu, logo, compadecer-te igualmente do teu companheiro, assim como também eu me compadeci de ti? E, cheio de cólera, mandou seu senhor que o entregassem aos algozes, até pagar toda a dívida. Assim também vos tratará meu Pai celestial, se não perdoardes, do íntimo de vossos corações, aquilo que vos tenha feito vosso irmão. ( Mateus, XVIII: 23 – 35.) “Amar o próximo como a si mesmo; fazer aos outros como quereríamos que nos fizessem”, eis a expressão mais completa da caridade, porque ela resume todos os deveres para com o próximo. Não se pode ter, neste caso, guia mais seguro, do que tomando como medida do que se deve fazer aos outros, o que se deseja para si mesmo. Com que direito exigiríamos de nossos semelhantes melhor tratamento, mais indulgência, benevolência e devotamento do que lhes damos? A prática dessas máximas leva à destruição do egoísmo. Quando os homens as tomarem como normas de conduta e como base de suas instituições, compreenderão a verdadeira fraternidade, e farão reinar a paz e a justiça. Não haverá mais ódios nem dissensões, mas união, concórdia e mútua benevolência. 19.º) Se os homens se amassem reciprocamente, a caridade seria mais bem praticada. Mas, para isso, seria necessário que vos esforçásseis no sentido de livrar o vosso coração dessa couraça que o envolve, a fim de torná-lo mais sensível ao sofrimento do próximo. O Cristo nunca se esquivava: aqueles que O procuravam, fossem quem fossem, não eram repelidos. A mulher adúltera, o criminoso, eram socorridos por Ele, que jamais temeu prejudicar a sua própria reputação. Quando, pois, o tomareis por modelo de todas as vossas ações? Se a caridade reinasse na Terra, o mal não dominaria, mas se apagaria envergonhado; ele se esconderia, porque em toda a parte se sentiria deslocado. Seria então que o mal desapareceria; compenetrai-vos bem disso. Começai por dar o exemplo vós mesmos. Sede caridoso para com todos, indistintamente. Esforçai-vos para não atentar nos que vos olham com desdém. Deixai a Deus cuidar de toda a justiça, pois cada dia, no seu Reino, Ele separa o joio do trigo. O egoísmo é a negação da caridade. Ora, sem a caridade, não há tranquilidade na vida social, e digo mais, não há segurança. Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, essa vida será sempre uma corrida favorável ao mais esperto, uma luta de interesses, em que as mais santas afeições são calcadas aos pés, em que nem mesmo os sagrados laços de família são respeitados. O verdadeiro progresso não consiste no ter progredido, mas no progredir sempre... 20.º) A FÉ E A CARIDADE A caridade sem a fé não é suficiente para manter entre os homens uma ordem social capaz de fazer-nos feliz, a caridade é impossível sem a fé. Podereis encontrar, é verdade, impulsos generosos entre as pessoas sem religião. Mas essa caridade austera, que só pode ser exercida pela abnegação, pelo sacrifício constante de todo o interesse egoísta, nada a não ser a fé poderá inspirá-la, porque nada além dela nos faz carregar com coragem e perseverança a cruz desta vida. 21.º) PAGAR O MAL COM O BEM Tendes ouvido o que foi dito: Amarás ao teu próximo e aborrecerás ao teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei bem ao que vos odeia, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai, que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos. Porque, se não amardes senão os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também assim? E se saudardes somente aos vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem também assim os gentios? – Eu vos digo que, se a vossa justiça não for maior e mais perfeita que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus. (Mateus, V:20, 43-47.) E se vós amais somente aos que vos amam, que merecimento é o que vós tereis? Pois os pecadores também amam os que os amam. E, se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que merecimento é o que vós tereis? Porque isto mesmo fazem também os pecadores. E se emprestardes somente àqueles de quem esperais receber, que merecimento é o que vós tereis? Porque também os pecadores emprestam uns aos outros, para que se lhes faça outro tanto. Amai, pois, os vossos inimigos, fazei bem, e emprestai, sem nada esperar, e tereis muito avultada recompensa, e sereis filhos do Altíssimo, que faz bem aos mesmos que lhe são ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. ( Lucas, VI: 32-36.) Se o amor do próximo é o princípio da caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação sublime, porque essa virtude constitui uma das maiores vitórias conquistadas sobre o egoísmo e o orgulho. Não obstante, geralmente nos equivocamos quanto ao sentido da palavra amor, aplicada a esta circunstância. Jesus não entendia, ao dizer estas palavras, que se deve ter pelo inimigo a mesma ternura que se tem por um irmão ou por um amigo. A ternura pressupõe confiança. Ora, não se pode ter confiança naquele que se sabe que nos quer mal. Não se pode ter para com ele as efusões da amizade, desde que se sabe que é capaz de abusar delas. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver os impulsos de simpatia existentes entre aqueles que comungam nos mesmos pensamentos. Não se pode, enfim, ter a mesma satisfação, ao encontrar um inimigo, que se tem com um amigo. Esse sentimento, por outro lado, resulta de uma lei física: a da assimilação e repulsão dos fluidos. O pensamento malévolo emite uma corrente fluídica que causa penosa impressão; o pensamento benévolo envolve-nos num eflúvio agradável. Daí a diferença de sensações que se experimenta, à aproximação de um inimigo ou de um amigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar que não se deve fazer nenhuma diferença entre eles e os amigos. Este preceito parece difícil, e até mesmo impossível de praticar, porque falsamente supomos que ele prescreve darmos a uns e a outros o mesmo lugar no coração. Se a pobreza das línguas humanas nos obriga a usarmos a mesma palavra, para exprimir formas diversas de sentimentos, a razão deve fazer as diferenças necessárias, segundo os casos. Amar os inimigos não é, pois, ter por eles uma afeição que não é natural, uma vez que o contato de um inimigo faz bater o coração de maneira inteiramente diversa que o de um amigo. Mas é não lhes ter ódio, nem rancor, ou desejo de vingança. É perdoar-lhes sem segunda intenção e incondicionalmente, pelo mal que nos fizeram. É não opor nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem em vez do mal. É alegrar-nos em lugar de aborrecer-nos com o bem que os atinge. É estender-lhes a mão prestativa em caso de necessidade. É abster-nos, por atos e palavras, de tudo o que possa prejudicá-los. É, enfim, pagar-lhes em tudo o mal com o bem, sem a intenção de humilhá-los. Todo aquele que assim fizer, cumpre as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos. Amar os inimigos é um absurdo para os incrédulos. Aquele para quem a vida presente é tudo, só vê no seu inimigo uma criatura perniciosa, a perturbar-lhe o sossego, e do qual somente a morte pode libertar. Daí, o desejo de vingança. Não há nenhum interesse em perdoar, a menos que seja para satisfazer o seu orgulho aos olhos do mundo. Perdoar, até mesmo lhe parece, em certos casos, uma fraqueza indigna da sua personalidade. Se não se vinga, pois, nem por isso deixa de guardar rancor e um secreto desejo de fazer o mal. Para aquele que acredita em Deus, a maneira de ver é inteiramente diversa, porque ele dirige o seu olhar para o passado e o futuro, entre os quais a vida presente é um momento apenas. Sabe que, na Terra, encontramos homens maus e perversos; que as maldades a que está exposto fazem parte das provas que deve superar, com humildade e resignação. O ponto de vista em que se coloca torna-lhe as vicissitudes menos amargas, quer venham dos homens ou das circunstâncias que a vida lhe trás. Se não se queixa das provas, não deve queixar-se também daqueles que lhe servem de instrumento. Se, em lugar de lamentar, agradece a Deus por ajuda-lo a supera-las, deve também agradecer a mão que lhe oferece a ocasião de mostrar a sua paciência e a sua resignação. Esse pensamento o dispõe naturalmente ao perdão. Ele sente, aliás, que quanto mais generoso for, mais se engrandece aos próprios olhos e mais longe se encontra do alcance dos dardos do seu inimigo. O homem que ocupa no mundo uma posição elevada não se considera ofendido pelos insultos daquele que olha como seu inferior. Assim acontece com aquele que se eleva, no mundo moral, acima da humanidade material. Compreende que o ódio e o rancor o envileceriam e rebaixariam, pois, para ser superior ao seu adversário, deve ter a alma mais nobre, maior e mais generosa. 22.º) SE ALGUÉM TE FERIR NA FACE DIREITA Vós tendes ouvido o que disse: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos que não resistais ao mal; mas se alguém vos ferir na face direita, oferecei-lhe também a outra; e ao que vos quer demandar em juízo, e vos tirar a túnica, largai-lhe também a capa; e se alguém vos obrigar a ir carregado mil passos, ide com ele ainda mais outros dois mil. Daí a quem vos pede, e não volteis as costas ao que deseja que lhe empresteis. (Mateus, V: 38-42.) Os preceitos do mundo, a respeito daquilo que se convencionou chamar ponto de honra, dão esta suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e do exagero personalismo, a qual leva o homem a geralmente retribuir injúria por injúria, golpe por golpe, o que parece muito justo para aqueles, cujo censo moral não se eleva acima das paixões terrenas. Eis por que dizia a lei mosaica: Olho por olho e dente por dente, mantendo-se em harmonia com o tempo em que Moisés vivia. Mas veio o Cristo e disse: “Não resistais ao que vos fizer mal; mas se alguém vos ferir na face direita, oferecei-lhe também a outra.” Para o orgulhoso, esta máxima parece uma covardia, porque ele não compreende que há mais coragem em suportar um insulto, que em se vingar. E isto, sempre, por aquele motivo que não lhe permite enxergar além do presente. Deve-se, entretanto, tomar esta máxima ao pé da letra? Não, da mesma maneira que aquela que manda arrancar o olho, se ele for causa de escândalo. Levada às últimas consequências, ela condenaria toda repressão, mesmo legal, e deixaria o campo livre aos maus, bem logo todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da natureza, nos diz que não devemos entregar de boa vontade o pescoço ao assassino. Por essas palavras, Jesus não proibiu a defesa, mas condenou a vingança. Dizendo-nos para oferecer uma face quando formos batidos na outra, disse, por outras palavras, que não devemos retribuir o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que tende a reduzir-lhe o orgulho; que é mais glorioso para ele ser ferido que ferir, suportar pacientemente uma injustiça que cometê-la; que mais vale ser enganado que enganar, ser arruinado que arruinar os outros. Isto, ao mesmo tempo, é a condenação do duelo, que nada mais é que uma manifestação do orgulho. A fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa o mal impune, é a única que nos pode dar a força de suportar, pacientemente, os atentados aos nossos interesses e ao nosso amor – próprio. Eis por que dizemos incessantemente: voltai os vossos olhos para o futuro; quanto mais vos elevardes, pelo pensamento, acima da vida material, menos sereis feridos pelas coisas da Terra. Quando a honra de um homem é inatacável, fica-lhe bem qualquer roupa que vista, por mais simples que seja... 23.º) “A VINGANÇA” A vingança é um dos últimos resíduos dos costumes bárbaros, que tendem a desaparecer dentre os homens. Ela é, um dos derradeiros vestígios daqueles costumes selvagens em que se debatia a Humanidade, no começo da era cristã. Por isso, a vingança é um índice seguro do atraso dos homens que a ela se entregam, e daqueles que ainda podem inspirá-la. Portanto, esse sentimento jamais deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e se afirme cristão. Vingar-se é de tal maneira contrário ao preceito do Cristo: “Perdoai aos vossos inimigos”, que aquele que se recusa a perdoar não pode ser considerado como um verdadeiro cristão. A vingança é um sentimento tanto mais funesto, quanto a falsidade e a vileza são suas companheiras assíduas. Com efeito, aquele que se entrega a essa paixão cega e fatal quase nunca se vinga às claras. Quando é o mais forte, precipita-se como uma fera sobre o que considera seu inimigo, pois basta vê-lo para que se inflamem a sua paixão, a sua cólera e o seu ódio. No mais das vezes, porém, assume uma atitude hipócrita, dissimulando no mais profundo do seu coração os maus sentimentos que o animam. Toma, então, caminhos escusos, seguindo o inimigo na sombra, sem que este desconfie, e aguarda o momento propício para feri-lo sem perigo. Ocultando-se, vigia-o sem cessar, prepara-lhe ciladas odiosas, e quando surge a ocasião, derrama-lhe o veneno na taça. Se o seu ódio não chega a esses extremos, ataca-o na sua honra e nas suas afeições. Não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas em todas as direções, vão crescendo pelo caminho. Dessa maneira, quando o perseguido aparece nos meios atingidos pelo seu sopro envenenado, admira-se de encontrar semblantes frios onde outrora havia rostos amigos e bondosos; fica estupefato, quando as mãos que procuravam a sua agora se recusam a apertá-la; enfim, sente-se aniquilado, quando os amigos mais caros e os parentes o evitam e se esquivam dele. Ah! O covarde que se vinga dessa forma é cem vezes mais criminoso que aquele que vai direto ao inimigo e o insulta face a face! Para trás, portanto, com esses costumes selvagens! Para trás com esses hábitos de outros tempos! Todo aquele que se considera um verdadeiro cristão que pretendesse Ter, ainda hoje, o direito de vingar-se, seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tomou por divisa o lema: Fora da caridade não há salvação. Quem com ferro fere, com ferro será ferido... 24.º) “O ÓDIO” Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tratai sobretudo de amar os que vos provocam indiferença, ódio e desprezo. O Cristo, que deveis tornar o vosso modelo, deu-vos o exemplo dessa abnegação: missionário do amor, amou até dar o sangue e a própria vida. O sacrifício de amar os que vos ultrajam e perseguem é penoso, mas é isso, precisamente o que vos torna superiores a eles. Se vós os odiásseis como eles vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. É essa a hóstia imaculada que ofereceis a Deus, no altar de vossos corações, hóstia de agradável fragrância, cujos perfumes sobem até Ele. Mas embora a lei do amor nos mande amar indistintamente a todos os nossos irmãos, não endurece o coração para os maus procedimentos. É essa, pelo contrário, a prova mais penosa. Mas Deus existe e sempre faz cumprir a Lei do Amor. Não vos esqueçais, de que o amor nos aproxima de Deus, e o ódio nos afasta d’Ele. A maior de todas as glórias não esta em nunca ter caído, mas em de pronto se levantar, todas as vezes em que se cai... 25.º) “QUE A MÃO ESQUERDA NÃO SAIBA O QUE FAZ A DIREITA” Guardai-vos, não façais as vossas boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis a recompensa da mão de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, derdes esmola, não façais tocar a trombeta diante de vós, como praticam os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados dos homens; em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Mas, quando derdes esmola, não saiba a vossa esquerda o que faz a vossa direita; para que a vossa esmola fique escondida, e vosso Pai, que vê o que fazeis em segredo, vos pagará. (Mateus, VI: 1-4.) E depois que Jesus desceu do monte, foi muita gente do povo que o seguiu. E eis que, vindo um leproso, o adorava dizendo: Se tu queres, Senhor, bem me podes limpar. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o dizendo: Pois eu quero; fica limpo. E logo ficou limpa toda a sua lepra. Então lhe disse Jesus: Vê, não digas a alguém; mas vai, mostra-te aos sacerdotes, e faze a oferta que ordenou Moisés, para lhes servir de testemunho a eles. (Mateus, VIII: 1-4.) Fazer o bem sem ostentação tem grande mérito. Esconder a mão que dá é ainda mais meritório, e o sinal incontestável de uma grande superioridade moral. Porque, para ver as coisas de mais alto que o vulgo, é necessário fazer abstração da vida presente e identificar-se com a vida futura. É necessário, numa palavra, colocar-se acima da Humanidade, para renunciar à satisfação do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que preza mais a aprovação dos homens que a de Deus, prova que tem mais fé nos homens que em Deus, e que a vida presente é para ele mais do que a vida futura, ou até mesmo que não crê na vida futura. Se ele diz o contrário, age, entretanto, como se não acreditasse no que diz. Quantos há que só fazem um benefício com a esperança de que o beneficiado o proclame sobre os telhados; que darão uma grande soma à luz do dia, mas escondido não dariam sequer uma moeda! Foi por isso que Jesus disse: “Os que fazem o bem com ostentação já receberam a sua recompensa.” Com efeito, aquele que busca a sua glorificação na terra, pelo bem que faz, já se pagou a si mesmo. Deus não lhe deve nada; só lhe resta receber a punição do seu orgulho. Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita é uma figura que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se existe a modéstia real, também existe a falsa modéstia, o simulacro da modéstia, pois há pessoas que escondem a mão, tendo o cuidado de deixar perceber que o fazem. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são depreciados pelos homens, que não lhes acontecerá perante Deus? Eles também já receberam a sua recompensa na terra. Foram vistos; estão satisfeitos de terem sido vistos; é tudo quanto terão. Qual será a recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre o beneficiado, que lhe exige de qualquer maneira testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a sua posição ao exaltar o preço dos sacrifícios que suportou por ele? Oh ! para esse, não há nem mesmo a recompensa terrena, porque está privado da doce satisfação de ouvir bendizerem o seu nome, o que é um primeiro castigo para o seu orgulho. As lágrimas que estanca, em proveito da sua vaidade, em lugar de subirem ao céu, recaem sobre o coração do aflito para ulcerá-lo. O bem que faz não lhe aproveita, desde que o censura, porque todo benefício exprobrado é moeda alterada que perdeu o valor. O benefício sem ostentação tem duplo mérito: além da caridade material, constitui caridade moral, pois contorna a suscetibilidade do beneficiado, fazendo-o aceitar o obséquio sem ferir o amor – próprio e salvaguardando a sua dignidade humana, pois há quem aceite um serviço, mas recusa a esmola. Converter um serviço em esmola, pela maneira por que é prestado, é humilhar o que o recebe, e há sempre orgulho e maldade em humilhar a alguém. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e habilidosa para dissimular o benefício e evitar até as menores possibilidades de melindre, porque todo choque moral aumenta o sofrimento provocado pela necessidade. Ela sabe encontrar palavras doces e afáveis, que põem o beneficiado à vontade diante do benfeitor, enquanto a caridade orgulhosa o humilha. O sublime da verdadeira generosidade está em saber o benfeitor inverter os papéis, encontrando um meio de parecer ele mesmo agradecido àquele a quem presta o serviço. Eis o que querem dizer estas palavras: Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita. O trabalho é o grande libertador do homem só a ociosidade o escraviza... O homem contudo, deve saber criar as suas próprias oportunidades e não somente encontrá-las... 26.º) “OS INFORTÚNIOS OCULTOS” Nas grandes calamidades, a caridade se agita, e veem-se generosos impulsos para reparar os desastres. Mas, ao lado desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos, de pessoas que jazem num miserável catre, sem se queixarem. São esses os infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que venham pedir assistência. Alma grande é sempre aquela que fita a luz na amplidão, sabendo o valor de uma vela na escuridão.... 27.º) “O ÓBOLO DA VIÚVA” E estando Jesus assentado defronte donde era o gazofilácio, observava. Ele de que modo deitava o povo ali o dinheiro; e muitos, que eram ricos, deitavam com mão larga. E tendo chegado uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que importavam um real. E convocando seus discípulos, lhes disse: Na verdade vos digo, que mais deitou esta pobre viúva do que todos os outros que deitaram no gazofilácio. Porque todos os outros deitaram do que tinham na sua abundância; porém esta deitou da sua mesma indigência tudo o que tinha, e tudo o que lhe restava para o seu sustento. (Marcos, XII: 41-44. – Lucas, XXI: 1-4.) Muita gente lamenta não poder fazer todo o bem que desejaria, por falta de recursos, e se querem a fortuna, dizem, é para aplicá-la. A intenção é louvável, sem dúvida, e pode ser muito sincera da parte de alguns; mas o seria da parte de todos, assim completamente desinteressados? Não haverá os que, inteiramente empenhados em beneficiar os outros, se sentirão bem de começar por si mesmos, concedendo-se mais algumas satisfações, um pouco mais do supérfluo que ora não têm, para dar aos pobres apenas o resto? Este pensamento oculto, talvez dissimulado, mas que encontrariam no fundo do coração, se o sondassem, anula o mérito da intenção, pois a verdadeira caridade faz antes pensar nos outros que em si mesmo. O sublime da caridade, nesse caso, seria procurar cada qual no seu próprio trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de sua capacidade, os recursos que faltam para realizar suas intenções generosas. Nisso estaria o sacrifício mais agradável ao Senhor. Mas, infelizmente, a maioria sonha com meios fáceis de enriquecer, de um golpe e sem sacrifícios, correndo atrás de quimeras, como a descoberta de tesouros, uma oportunidade favorável, o recebimento de heranças inesperadas, e assim por diante. Aqueles, cuja intenção é desprovida de qualquer interesse pessoal, devem consolar-se de sua impotência para fazer o bem que desejariam, lembrando que o óbolo do pobre, que o tira da sua própria privação, pesa mais na balança de Deus que o ouro do rico, que dá sem privar-se de nada. Seria grande a satisfação, sem dúvida, de poder socorrer largamente a indigência; mas, se isso é impossível, é necessário submeter-se a fazer o que se pode. Aliás, não é somente com o ouro que se podem enxugar as lágrimas, e não devemos ficar inativos por não o possuirmos. Aquele que deseja sinceramente tornar-se útil para os seus irmãos, encontra mil ocasiões de fazê-lo. Que as procure e as encontrará. Se não for de uma maneira, será de outra, pois não há uma só pessoa, no livre gozo de suas faculdades, que não possa prestar algum serviço, dar uma consolação, amenizar um sofrimento físico ou moral, tomar uma providência útil. Na falta de dinheiro, não dispõe cada qual do seu esforço, do seu tempo, do seu repouso, para oferecer um pouco aos outros? Isso também é a esmola do pobre, o óbolo da viúva. 28.º) “CONVIDAR OS POBRES E ESTROPIADOS” Dizia mais ainda ao que o tinha convidado: Quando deres algum jantar ou alguma ceia, não chames nem teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos que forem ricos, para que não aconteça que também eles te convidem à sua vez, e te paguem com isso; mas quando deres algum banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás bem – aventurado, porque esses não têm com que te retribuir; mas ser-te-á isso retribuído na ressurreição dos justos. Tendo ouvido estas coisas, um dos que estavam à mesa disse para Jesus: Bem – aventurado o que comer o pão no Reino de Deus. (Lucas, XIV: 12-15.) “Quando fizeres um banquete, disse Jesus, não convides os teus amigos, mas os pobres e os estropiados.” Essas palavras, absurdas, se a tomarmos ao pé da letra, são sublimes, quando procuramos entender-lhes o espírito. Jesus não poderia ter querido dizer que, em lugar do amigos, fosse necessário reunir à mesa os mendigos da rua. Sua linguagem era quase sempre figurada, e para os homens incapazes de compreender os tons mais delicados do pensamento, precisava usar de imagens fortes, que produzissem o efeito de cores berrantes. O fundo de seu pensamento se revela por estas palavras: “E serás bem – aventurado, porque esses não têm com o que te retribuir.” O que vale dizer que não se deve fazer o bem com vistas à retribuição, mas pelo simples prazer de fazê-lo. Para tornar clara a comparação, disse: convida os pobres para o teu banquete, pois sabes que eles não te podem retribuir. E por banquete é necessário entender, não propriamente a refeição, mas a participação na abundância de que desfrutas. Essas palavras podem também ser aplicadas em sentido mais literal. Quantos só convidam para a sua mesa os que podem, como dizem, honrá-los ou retribuir-lhes o convite. Outros, pelo contrário, ficam satisfeitos de receber parentes ou amigos menos afortunados, que todos possuem. Essa é por vezes a maneira de ajudá-los disfarçadamente. Esses, sem ir buscar os cegos e os estropiados, praticam a máxima de Jesus, se o fazem por benevolência, sem ostentação, e se sabem disfarçar o benefício com sincera cordialidade. 29.º) “ A CARIDADE MATERIAL E A CARIDADE MORAL” “Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos que nos fosse feito.” Toda a religião, toda a moral, se encerram nestes dois preceitos. Se eles fossem seguidos no mundo, todos seriam perfeitos. Não haveria ódios, nem ressentimentos. Direi mais ainda: não haveria pobreza, porque, do supérfluo da mesa de cada rico, quantos pobres seriam alimentados! E assim não mais se veriam, nos bairros sombrios da periferia distante, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças necessitadas de tudo. Pensemos juntos um pouco em tudo isso. Devemos ajudar o mais possível aos infelizes; para que Deus nos retribua um dia todo o bem que houvermos feito. Devemos ainda compreender bem o que deve ser a caridade moral, aquela que todos nós podemos praticar, que materialmente nada custa, e que não obstante é a mais difícil de se pôr em prática. A caridade moral consiste em nos suportarmos uns aos outros, o que menos fazemos neste nosso mundo inferior. Há um grande mérito, em saber calar, para que outro mais tolo possa falar; isso é também uma forma de caridade. Saber fazer-se de surdo, quando uma palavra irônica escapa de uma boca habituada a caçoar; não ver o sorriso desdenhoso com que nos recebem pessoas que muitas vezes erradamente se julgam superiores, este é um merecimento que não é humildade, mas de caridade, pois não se incomodar com as faltas alheias é caridade moral. Essa caridade, entretanto, não deve impedir que se pratique a outra. Pelo contrário: pensemos, sobretudo, que não devemos desprezar o nosso semelhante; recordemo-nos de que Jesus disse que somos todos irmãos, e pensemos sempre nisso, antes de repelirmos o leproso ou o mendigo, pensemos sempre naqueles que sofrem, e oremos. 30.º) “A BALANÇA DIVINA” Dois homens acabavam de morrer. Deus havia dito: “Enquanto esses dois homens viverem, serão postas as suas boas ações num saco cada um, e quando morrerem, serão pesados esses sacos.” Quando ambos chegaram à sua última hora, Deus mandou que lhe levassem os dois sacos. Um estava cheio, volumoso, estufado, e retinia o metal dentro dele. O outro era tão pequeno e fino, que se viam através do pano as poucas moedas que continha. Cada um dos homens reconheceu o que lhe pertencia: “Eis o meu – disse o primeiro – eu o conheço; fui rico e distribuí bastante!” O outro disse: “Eis o meu. Fui sempre pobre, ah! Não tinha quase nada para distribuir.” Mas, ó surpresa: postos na balança, o maior tornou-se leve, e o pequeno se fez pesado, tanto que elevou muito o outro prato da balança. Então, Deus disse ao rico: “Deste muito, é verdade, mas o fizeste por ostentação, e para ver o teu nome figurando em todos os templos do orgulho. Além disto, ao dar, não te privaste de nada. Passa à esquerda e fica satisfeito, por te ser contada a esmola como alguma coisa.” Depois, disse ao pobre: “Deste bem pouco, meu amigo, mas cada uma das moedas que está na balança representou uma privação para ti. Se não distribuíste a esmola, fizeste a caridade, e o melhor é que a fizeste naturalmente, sem te preocupares de que a levassem a tua conta. Foste indulgente; não julgaste o teu semelhante; pelo contrário, encontraste desculpa para todas as suas ações. Passa à direita, e vai receber a tua recompensa. Só por Deus! 31.º) A mulher rica, feliz, que não tem necessidade de empregar o seu tempo nos trabalhos da casa, não pode dedicar algumas horas ao serviço do próximo? Que, com as sobras dos seus gastos felizes, compre agasalhos para o infeliz que tirita de frio; com suas mãos delicadas, confeccione roupas grosseiras, mas quentes, e ajude a mãe pobre a vestir o filho que vai nascer. Se o seu filho, com isso, ficar com alguns rendados de menos, o daquela terá mais calor. Trabalhar para os pobres é trabalhar na Vinha do Senhor. E tu, pobre operária, que não dispões de sobras, mas que desejas, no amor por teus irmãos, dar também um pouco do que possuis, oferece algumas horas do teu dia, do teu tempo, que é o teu único tesouro. Faze alguns desses trabalhos elegantes que tentam os felizes, vende o produto dos teus serões, e poderás também proporcionar a teus irmãos a tua parte de alívio. Terás, talvez, algumas fitas a menos, mas darás sapatos aos que vivem descalços. E vós, mulheres devotadas a Deus, trabalhai também para as vossas obras piedosas, mas que os vossos trabalhos delicados e custosos não sejam feitos apenas para ornar as vossas capelas, ou para atrair a atenção sobre a vossa habilidade e paciência. Trabalhai e que o resultado de vossas obras seja consagrado ao alívio de vossos irmãos em Deus. Os pobres são os Seus filhos bem amados: trabalhar por eles é glorificá-lo. Sede os instrumentos da Providência, que diz: “Às aves do céu, Deus dá o alimento.” Que o ouro e a prata, tecidos pelos vossos dedos, se transformem em roupas e provisões para os necessitados. Fazei isso, e o vosso trabalho será abençoado. E todos vós, que podeis produzir, daí: daí o vosso gênio, daí as vossas inspirações, daí o vosso coração, que Deus vos abençoará. Poetas, literatos, que sois lidos somente pela gente de sociedade, preenchei os seus lazeres, mas que o produto de algumas de vossas obras seja destinado ao alívio dos infelizes. Pintores, escultores, artistas de todos os gêneros, que a vossa inteligência venha também ajudar os vossos irmãos: não tereis menos glória por isso, e eles terão alguns sofrimentos a menos. Todos nós podemos doar: a qualquer classe a que pertençamos, teremos sempre alguma coisa que pode ser dividida. Seja o que for que Deus nos tenha dado, devemos uma parcela aos que não têm sequer o necessário, pois, em seu lugar ficaríamos contentes, se alguém dividisse conosco. Nossos tesouros da terra diminuirão um pouco, mas nossos tesouros no céu serão mais abundantes: colheremos pelo cêntuplo, lá em cima, o que semearmos em benefícios aqui embaixo. 32.º) “A PIEDADE” A piedade é a virtude que mais nos aproxima dos anjos. É a irmã da caridade que nos conduz para Deus. Deixemos nossos corações se enternecerem diante das misérias e dos sofrimentos dos nossos semelhantes. Nossas lágrimas são como um bálsamo que derramamos em suas feridas. E quando são tocados por uma doce e sincera simpatia, conseguimos restituir-lhes a esperança e a resignação. É verdade que essa ventura tem um certo amargor, porque surge ao lado da desgraça; mas, se não apresenta o forte sabor dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio deixado por estes; pelo contrário, tem uma penetrante suavidade, que encanta a alma. A piedade, quando profundamente sentida, é amor; o amor é devotamento; o devotamento é o olvido de si mesmo; e esse olvido, essa abnegação pelos infelizes, é a virtude por excelência, aquela mesma que o divino Messias praticou em toda a sua vida, e ensinou na sua doutrina tão santa e sublime. Quando essa doutrina for devolvida a sua pureza primitiva, quando for admitida por todos os povos, ela tornará a terra feliz, fazendo reinar na sua face a concórdia, a paz e o amor. O sentimento mais apropriado a nos fazer progredir, domando nosso egoísmo e o nosso orgulho, aquele que dispõe nossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do próximo, é a piedade, essa piedade que nos comove até as fibras mais intimas, diante do sofrimento de nossos irmãos, que nos leva a estender-lhes a mão caridosa e nos arranca lágrimas de simpatia. Jamais sufoqueis, portanto, em vossos corações, essa emoção celeste, nem façais como esses endurecidos egoístas que fogem dos aflitos, para que a visão de suas misérias não lhes perturbe por um instante a feliz existência. Temei ficar indiferentes, quando puderdes ser úteis. A tranquilidade conseguida com o preço de uma indiferença culposa é a tranquilidade do Mar Morto, que oculta na profundidade de suas águas a lama fétida e a corrupção. Quando a piedade está longe, entretanto, de produzir a perturbação e o aborrecimento de que se arreceia o egoísta! Não há dúvida que a alma experimenta, ao contato da desgraça alheia, confrangendo-se, um estremecimento natural e profundo, que faz vibrar todo o nosso ser e nos afeta penosamente. Mas a compensação é grande, quando conseguimos devolver a coragem e a esperança a um irmão infeliz, que se comove ao aperto da mão amiga, e cujo olhar, ao mesmo tempo umedecido de emoção e reconhecimento, se volta com doçura para nós, antes de se elevar ao céu, agradecendo por lhe haver enviado um consolador, um amparo. A piedade é a melancólica, mas celeste precursora da caridade, esta primeira entre as virtudes, de que ela é irmã, e cujos benefícios prepara e enobrece. 33.º) “OS ÓRFÃOS” Meus irmãos, amai os órfãos! Se soubésseis quanto é triste estar só e abandonado, sobretudo quando criança! Deus permite que existam órfãos, para nos animar a lhes servimos de pais. Que divina caridade, a de ajudar uma pobre criaturinha abandonada, livrá-la da fome e do frio, orientar sua alma, para que ela não se perca no vício! Quem estende a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, porque demonstra compreender e praticar a sua lei. Lembrai-vos também de que, frequentemente, a criança que agora socorremos nos foi a oportunidade bendita que Deus na sua infinita misericórdia nos deu, para que pudéssemos praticar a caridade. Entendendo ainda que todo sofredor é nosso irmão e que portanto tem direito à nossa caridade. Não a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima a mão de quem a recebe, pois os nossos óbolos são frequentemente muito amargos! Quantas vezes eles seriam recusados, se a doença e a privação não os esperassem no casebre! Daí com ternura, juntando ao benefício material o mais precioso de todos: uma boa palavra, que revolve a lâmina no coração que sangra, e pensai que, ao fazer o bem, trabalhais para vós e para os vossos. 34.º) “HONRA A TEU PAI E A TUA MÃE” Sabes os mandamentos: Não cometas adultério; Não mates; Não furtes; Não digas falso testemunho; Não cometas fraudes; Honras a teu pai e a tua mãe. (Marcos, X: 19; Lucas, XVIII: 20; Mateus, XIX: 19.) Honrarás a teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a terra que o Senhor teu Deus te há de dar. (Decálogo, Êxodo, XX: 12.) O mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe”, é uma consequência da lei geral da caridade e do amor ao próximo, porque não se pode amar ao próximo sem amar aos pais; mas o imperativo honra implica um dever a mais para com eles; o da piedade filial. Deus quis demonstrar, assim, que ao amor é necessário juntar o respeito, a estima, a obediência e a condescendência, o que implica a obrigação de cumprir para com eles, de maneira ainda mais rigorosa, tudo o que a caridade determina em relação ao próximo. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que se encontram no lugar dos pais, e cujo mérito é tanto maior, quanto o devotamento é para elas menos obrigatório. Deus pune sempre de maneira rigorosa toda violação desse mandamento. Honrar ao pai e à mãe não é somente respeitá-los, mas também assisti-los nas suas necessidades; proporcionar-lhe o repouso na velhice; cercá-los de solicitude, como eles fizeram por nós na infância. É sobretudo para com os pais sem recursos que se demonstra a verdadeira piedade filial. Satisfariam a esse mandamento os que julgam fazer muito, ao lhes darem o estritamente necessário, para que não morram de fome, enquanto eles mesmos de nada se privam? Relegando-os aos piores cômodos da casa, apenas para não deixá-los na rua, e reservando para si mesmos os melhores aposentos, os mais confortáveis? E ainda bem quando tudo isso não é fito de má vontade, sendo os pais obrigados a pagar o que lhes resta da vida com a carga dos serviços domésticos! É então justo que pais velhos e fracos tenham de servir a filhos jovens e fortes? A mãe lhes teria cobrado o leite, quando ainda estavam no berço? Teria, por acaso, contado as suas noites de vigília, quando eles ficavam doentes, os seus passos para proporcionar-lhes o cuidado necessário? Não, não é só o estritamente necessário que os filhos devem aos pais pobres, mas também, tanto quanto puderem, as pequenas alegrias do supérfluo, as amabilidades, os cuidados carinhosos, que são apenas os juros do que receberam, o pagamento de uma dívida sagra. Essa, somente, é a piedade filial aceita por Deus. Infeliz, portanto, aquele que se esquece da sua dívida para os que o sustentaram na infância, os que, com a vida material, lhe deram também a vida moral, e que frequentemente se impuseram duras privações para lhe assegurar o bem – estar! Ai do ingrato, porque ele será punido pela ingratidão e pelo abandono; será ferido nas suas mais caras afeições, às vezes desde a vida presente, mas de maneira certa noutra existência, em que terá de sofrer o que fez os outros sofrerem! Certos pais, é verdade, descuidam dos seus deveres, e não são para os filhos o que deviam ser. Mas é a Deus que compete puni-los, e não aos filhos. Não cabe a estes censurá-los, pois que talvez eles mesmos fizeram por merecê-los assim. Se a caridade estabelece como lei que devemos pagar o mal com o bem, ser indulgente para com as imperfeições alheias, não maldizer do próximo, esquecer e perdoar as ofensas, e amar até mesmo os inimigos, quanto essa obrigação se faz ainda maior, em relação aos pais! Os filhos devem, por isso mesmo, tomar como regra de conduta para com os pais os preceitos de Jesus referentes ao próximo, e lembrar que todo procedimento condenável em relação aos estranhos, mais condenável se torna para com os pais. Devem lembrar que aquilo que no primeiro caso seria apenas uma falta, pode tornar-se um crime no segundo, porque, neste, à falta de caridade junta-se a ingratidão.

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